domingo, 10 de julho de 2011

O Cabaret


Noite fria na grande São Paulo, anos40, ela se arruma, unhas e boca pintadas de carmim ...subiria ao palco para mais uma de suas inúmeras apresentações, a casa estava cheia (de homens)  e ela era sempre a única naquele lugar que nenhum homem podia ter, apenas cantava, diferente das outras "mulheres da vida" que ali trabalhavam.
Ajeitou suas plumas, seu anel de brilhantes e o seus cabelos negros encarou o espelho, aqueceu sua voz quando sentiu uma mão quente em seus ombros:
- Baby?
Ela olha para trás, era o homem á quem ela mais desejava...
- Óh querido, me assustou, quando entra em meu camarim assim meio que por assalto eu simplesmente me assusto! sou tola, tolinha sou...
Gagueja e fala sorrindo.
Ele percebe a reacção da estrela da noite, retira a capa e o chapéu.
- o que cantará hoje?
Ela:
- bem, eu ainda não decidi entre duas canções, mas ao subir no palco saberei o que fazer e os meninos da orquestra saberá me conduzir.
Ele olhava atentamente os contornos definidos da boca da estrela, pintados de carmim, uma boca tal qual um morango vermelho no inverno Paulista.
Ela queria aquele homem, ele por sua vez era muito bem casado e a esposa era um grande exemplo de mulher de família ( o oposto de uma cantora de cabaret...fato)
- por que sempre vem nas noites em que me apresento? sua esposa sabe que estás aqui?
Ele responde firme:
- venho por que gosto da sua voz, do seu cheiro, da sua pele...do seu beijo.
Ela estremecida pela investida do galã o questiona :
- mas como falas do meu beijo, se nunca provaste... como fala da minha pele se nunca á tocara em toda sua vida?
Ele sorri a encarando ainda mais firme:
- não preciso provar para gostar senhorita!
Ela sabia que jamais arrumaria um marido, era cantora de cabaret... sabia que nenhum homem jamais iria respeita-la, era suja e não era cristã...era pagã  e profana, queria aquele homem, o desejava sedentamente...mas não conseguia sujar-se mais.
- Querido, é chegada minha hora.
Ela sobe , segura o microfone...
canta, o encara...
ele olha de longe, de chápeu e de capa.
Ele desejava aquela mulher e não tinha medo ou vergonha de se sujar...
Termina a noite e ele volta ao camarim:
- quer que eu  te leve em casa senhorita?
Ela:
- tomarei um taxi, mas obrigada.
Ele a puxa pelo braço:
- beije-me querida!
Ela o estapeia no rosto:
- respeite-me! és casado!
Ele a puxa mais forte e contra o peito dando lhe um beijo no queixo:
- oras! beije -me !
Ela resmunga poucas palavras...sem muito sentido.
Ele a aperta :
- beije! ordeno que beije-me agora!
Então ele a puxa agressivamente, colando os lábios masculinos na boca de morango da estrela.
Ela:
- odeio você!
Ele:
- não mesmo!
...Ela sai, entra no carro dele...
já era suja mesmo...