domingo, 29 de janeiro de 2012

Legião,Homens,Rimbaud e Eu


São feitos de sutilezas. Tudo neles está à mão e distante; sublimado e exposto. Para eles não há diferença entre comédia e tragédia, eles sabem que a vida é teatro. Armam cenas, cerram cortinas, esperam, afagam, afastam. Querem solidão suas madrugadas, querem atenção suas impaciências. Gritam, mas apenas pelo prazer do silêncio. Despetalam a flor da pele, as lágrimas dos cadernos, os livros das estantes. Nem sempre estão em ponto de bala, prontos para o combate; muitas vezes são alvos fáceis. São dóceis, indefesos, furiosos, indomesticáveis. Colocam as cartas na mesa, viram a mesa, viram o jogo; perdem por muito, vencem por pouco. Sabem de cor muitas mentiras, mas o que importa são as verdades: as mais duras, as mais inconfessáveis – todas passíveis de arrependimentos. Têm sempre certeza, certeza de tudo, embora achem que ninguém os entendam. Brigam, se desculpam, admitem a culpa, colocam a culpa no outro. Abraçam forte e longamente, acolhem em seus braços todas as possibilidades, todos os afetos. Querem amor e exigem amar, querem amar e exigem amor. Insistem em demonstrar força, porém são inseguros, frágeis. São meninos brincando de ser homens. Não sentem cólicas, sentem muito. Sentem ciúmes, se arriscam, pedem provas, se entregam, contradizem. Exibem suas cicatrizes com orgulho, cultivam algumas feridas como plantas. Choram trancados no banheiro, enxugam o rosto no lado mais frio da cama, buscam no escuro o calor do acaso. Suas noites são intermináveis, dolorosas e reconfortantes. Mas não há ambivalência em suas manhãs. 


******** 19:00
Adormeci lendo Rimbaud, como se estivesse em uma praia selvagem do Marrocos, como se aquelas palavras me deflorassem, como se eu estivesse exposta ao feroz zunzum das moscas imundas, como se a eternidade me invadisse e um amor infinito tomasse minha alma, como se eu dançasse no baile dos enforcados e depois caminhasse longe, muito longe, feito um boêmio. Quando acordei, tinha o olhar perdido e a postura morta. Acho que ninguém me reconheceria assim...

********20:15
Era mais simples quando eu era pequena e minha irmã perguntava:
- faz esse favor pra mim, Naty?  
- não.
Descobrindo que não sei dizer "não" como fazia antes com tanta felicidade.
Ou  vai ver as perguntas agora é que são mais complicadas.