quinta-feira, 24 de março de 2011

O Café

Ela entra em um Café na Paulista.

...Nunca mais se viram.

Tantas memórias, senta-se e no balcão pede um café extra forte e sem açúcar.
"Aí olha para porta, lembra de quando o viu pela primeira vez, descabelado, com
a gravata frouxa , brincando com o garçom pedindo:
- Quero um pingado, urgente , vou sentar nesse sofá aqui e se eu dormir me acorde
assim que o pingado estiver no jeito!!
Foi assim que haviam se conhecido. Naquele café, por conta dos cafés, perguntas bobas como
Ele : por que você bebe café sem açúcar?!
Ela: por que conserva o real gosto do café , é extra forte por que tou  precisando acordar.
Ele sorri: também tou com sono.
Ela: meu caso não é sono, é o pesadelo do qual quero acordar!
Ele: deixa eu  chutar, tu é musica?
Ela sorri : por que?
Ele: pelo jeito como fala, sabia que sou musico?"

Tantas memórias, o café chega, ela sozinha olha pra porta, agora o tempo passou, ela estava com outro alguém , ela estava forte, ela estava bonita. E ela estava madura...um papo de cafézinho não a ganharia tão facilmente.
Então ela escuta o ranger da porta de vidro, não aguenta e olha e quando vê ...é ele.
Seria fruto de sua imaginação.
Mas o fruto da imaginação estava indo em sua direcção.
Ele sorriu, ela abaixou a cabeça, tomou um gole do café e então ele se aproximou
- Você por aqui?
Ela: pois é, tomando o melhor café da Paulista.
Ele: como você tá, nossa faz tanto tempo.
Ela: faz mesmo, eu tou bem.
Ele: é eu também tou bem de verdade, bem mesmo, é...
Ela: não me lembro de ter perguntado se você está bem.
Ele: e seu namoro?
Ela: bem, vai muito bem.
Ele: sempre venho aqui com minha atual namorada.
Ela: bom pra vocês.
Por dentro isso foi a gota d'agua, eles se conheceram ali, ali era o berço de doces memórias dele, era quase que um território fechado.
Ele: o amor é quase que um liquidificador, se você desliga ele para, mas se ligar volta a girar tudo de novo, eu tou feliz, tou amando a atual como te amei, ela é bem parecida com você, ela gosta de cupcake e café extra forte.
Ela: eu concordo com sua teoria amigo, mas meu namorado é bem diferente de você. Não costumo errar duas vezes.
E o peito sangrava , queria chorar, mas fingiu não sentir nada, o seu olhar ficou vazio, seu coração amargo e forte feito o café.
Ela: Julião , me preparar um café forte pra levar , com uma gota de conhaque?!
Ela pede ao garçom.
Ele: já vai?
Ela: sim, tenho muita coisa pra fazer.
Ele: me dê um abraço de tchau.
Ela o abraçou sem palavras.
Ele: tá ! a gente se vê...
Ela pega o café com a tampa de viagem, paga o olha e diz:
Não, a gente não vai se ver mais.
E vai embora.