quinta-feira, 7 de abril de 2011

O porta retrato

Ela separava as roupas dele, colocava dentro da caixa, o closet ficava vazio, com o cheiro do perfume que trouxeram da viagem à França.
- Nossa, como foi bom!  durante a viagem não pensei em nada, comíamos, dormíamos, passeávamos e acho que foi a ultima vez que fizemos amor.
Lembra-se da viagem ... mas agora tudo tinha acabado, não eram mais um casal, e as caixas na sala aguardavam as outras roupas, sapatos e acessórios.
Ela ajeitava com carinho, uma certa dor e a certeza, que seria o único jeito, de pararem de se ferir, a separação não era o fim, talvez o retorno de uma velha e boa amizade.
Desceu as escadas, colocou o restante das roupas, voltou para  quarto, olhou a cabeceira do criado mudo no seu lado da cama, lá estava a foto... uma foto em que ele não havia feito a barba, e que ela insistia em dizer sempre a mesma coisa quando olhava :
- Tinha que ter feito a barba antes de tirar essa foto, é tão mais lindo sem barba! barbudo !
Ela abraçou o porta retrato, pensou se colocava ou não na caixa, e nessa hora chorou.
colocou o porta retrato debaixo do travesseiro.
Desceu novamente para a sala, e foi até a cozinha, onde na estante havia outro porta retrato, na foto ele sorria dentro da piscina.
- Ainda barbudo... mas ainda tão lindo.
Ela pensou.
Amava aquele homem da piscina, e aquele barbudo do quarto, ela amava ... amou a vida toda, e sempre iria amar, nem uma separação , nem traição, nem contradições, nada , iria matar o amor construído por anos e anos de uma amizade mais fiel do que a de um cão e homem.
Fez um café, bebeu.
Botou sua filha pra dormir, olhou-se no espelho, estava cansada, o aspecto horrendo... de roupão e chinelos , um coque nos cabelos [quase caindo] e óculos.
Então teve uma ideia, pegou o porta retrato que estava no criado mudo do lado dele na cama, era uma foto dela, sorrindo de óculos de sol e chapéu.
Desceu até a sala, e colocou o seu porta retrato dentro da caixa:
- essa foto é sua...e a sua é minha!
Chorou ajoelhada diante às caixas de roupas. 
Voltou para o quarto, deitou-se e então sentiu algo debaixo de sua cabeça, era o porta retrato com a foto dele... olhou, abraçou e beijou aquela foto.
- Te amo, que pena! eu te amo...
falou baixinho...e dormiu.